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Os desafios do novo Presidente


Por David Kallás

Jair Bolsonaro foi eleito Presidente da República no dia 28/10/2018 com aproximadamente 57,8 milhões de votos, 10,8 milhões a mais que seu oponente, Fernando Haddad. Passada a ressaca do período eleitoral, é hora de olhar para o futuro de forma pragmática e realista, já com a definição do cenário político resultante das eleições. De certeza, somente uma: não será fácil. Entre os principais desafios, destaco aqui alguns que considero relevantes.

Garantir a governabilidade para aprovar reformas estruturais

Segundo o célebre professor de Harvard, John Kotter, os dois primeiros passos para um processo de mudança bem-sucedida são a criação de um senso de urgência e a formação de coalizão administrativa. Ao que tudo parece, o senso de urgência já existe. Dito isso, o desafio número 01 do novo Presidente será, face à nova e em grande parte renovada composição do legislativo brasileiro, criar uma equipe central. Essa equipe deverá trabalhar de forma alinhada para aprovar reformas estruturais e a agenda liberal que são a base do seu plano de governo. Esse desafio será tanto maior quanto sua vontade de nomear somente cargos técnicos para as posições-chave, conforme promessas de campanha.

Realizar o ajuste fiscal

A agenda econômica passa pelo equilíbrio das contas públicas. Por mais que se pretenda gerar caixa com privatizações e concessões, é necessário fazer mudanças na estrutura de gastos. A Previdência é a principal despesa do governo, equivalente a 60% do orçamento federal. Por causa do envelhecimento da população, é um gasto que tende a aumentar organicamente. Mantidas as condições atuais, em 2030 essas despesas chegariam a 70%, nível insustentável, de acordo com projeções da XP Investimentos.

Consolidar a democracia e o respeito às instituições

O Presidente carrega consigo um passivo em termos de desconfiança de parte da opinião pública, da mídia e demais atores da sociedade em geral por causa de declarações históricas polêmicas. Pelo fato dele e de membros de sua equipe já terem feito acenos ao fechamento do Congresso e demonstrado simpatia pelo regime militar, é de se esperar que haja uma forte vigilância em relação ao respeito às instituições, apesar desse tema ter sido um dos principais pontos do seu primeiro discurso como candidato eleito. Somente o tempo, aliado à coerência no respeito às instituições, poderá reduzir esse passivo.

Buscar conquistas de curto prazo na segurança pública

A segurança pública, outro pilar de sua campanha política, é um dos maiores desafios, principalmente por se tratar de um ponto onde os eleitores mais depositaram confiança no Presidente. Aqui será necessário alcançar conquistas em curto ou médio prazo. Entretanto, trata-se de problema complexo, e o programa de governo traz poucos detalhes em relação às suas ações em relação a esse tema. Seu compromisso com o fim do desarmamento é uma medida polêmica e contestada por vários pesquisadores.

Conquistar um voto de confiança do funcionalismo público

Nenhum líder consegue executar suas estratégias sem o apoio da equipe operacional. Por causa de suas declarações e posicionamentos históricos, Bolsonaro poderá ter dificuldades ao conquistar a confiança de boa parcela de servidores públicos nas mais diversas esferas. Aqui também será necessário um esforço de longo prazo na busca de credibilidade.

Especialistas costumam dizer que os cem primeiros dias de governo são os mais importantes de um mandato. Aqui não será diferente. Entretanto, face aos muitos desafios, será necessário priorizar. O Presidente e sua equipe devem aproveitar o período de transição para planejar os primeiros passos do governo, de forma a aproveitar a lua de mel que o mercado e a opinião pública irão lhe conceder. O tempo nos dirá se serão bem-sucedidos.

David Kallás é sócio da KC&D e da JBJ Partners. É professor no Hospital Israelita Albert Einstein e Insper, onde acumula a coordenação do Centro de Pesquisas em Negócios. É Vice-Presidente da Anefac – Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. É doutor em estratégia pela pela FGV/EAESP, mestre e graduado em administração pela FEA/USP. Possui artigos publicados em diversos periódicos nacionais e internacionais, e autor em 3 livros sobre gestão e estratégia.

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